Já alguma vez tentaram puxar pela memória e recordar o momento em que nasceram? Spoiler: não vai acontecer. E não, não é porque foi tão traumático que o vosso cérebro decidiu apagar o episódio. A verdade é que existe uma explicação científica para este mistério da nossa memória.
O que é a amnésia infantil?
O fenómeno de não nos lembrarmos dos primeiros anos de vida tem um nome: amnésia infantil. Basicamente, o nosso cérebro não consegue armazenar memórias de longo prazo antes de uma certa idade. A maioria das pessoas só começa a ter recordações por volta dos três ou quatro anos. Mas porquê?
O cérebro ainda está em desenvolvimento
Nos primeiros anos de vida, o cérebro humano está ocupado a desenvolver-se a uma velocidade impressionante. O hipocampo, a parte do cérebro responsável pela formação de memórias, continua em construção. Como resultado, as experiências dos primeiros meses (e até anos) de vida não são guardadas da mesma forma que as memórias que criamos mais tarde.
Além disso, as sinapses – as conexões entre os neurónios – são constantemente criadas e eliminadas, um processo conhecido como poda sináptica. Esse mecanismo ajuda o cérebro a tornar-se mais eficiente, mas também pode contribuir para a eliminação das memórias mais antigas, especialmente as formadas durante a primeira infância.
O papel da linguagem na memória
Outro fator importante é a linguagem. Para armazenarmos e recordarmos memórias, precisamos de dar significado às experiências – e isso acontece, na maioria das vezes, através da linguagem. Como os bebés ainda não têm um vocabulário estruturado, não conseguem criar memórias de uma forma que possam mais tarde recuperar.
Estudos mostram que as memórias dos primeiros anos de vida começam a ser mais acessíveis quando a criança aprende a falar e a estruturar pensamentos em frases. Isso significa que, antes do desenvolvimento da linguagem, a nossa capacidade de formar memórias declarativas (aquelas que conseguimos relatar) é muito limitada.
As memórias podem estar lá… mas inacessíveis
Alguns cientistas acreditam que as memórias dos primeiros anos não desaparecem completamente, mas ficam inacessíveis. Com o crescimento e o desenvolvimento do cérebro, a maneira como armazenamos as memórias muda, dificultando (ou tornando impossível) recuperar aquelas dos primeiros tempos de vida.
Curiosamente, há relatos de pessoas que conseguem lembrar-se de eventos da primeira infância, mas esses casos são raros e, muitas vezes, podem ser influenciados por relatos de familiares ou fotografias que ajudam a criar uma falsa sensação de lembrança.
Então, há forma de recuperar essas memórias?
Infelizmente, não. Técnicas como hipnose ou regressão não provam ser eficazes para recuperar memórias do nascimento, e muitas vezes geram falsas memórias. O nosso cérebro pode preencher as lacunas da infância com narrativas criadas a partir de informações externas, como histórias que nos contaram ou imagens que vimos.
Por outro lado, algumas experiências precoces podem ser guardadas de forma inconsciente e influenciar a nossa personalidade, preferências e até reações emocionais. Ou seja, aquilo que vivemos nos primeiros anos pode deixar marcas no nosso comportamento, mesmo que não nos lembremos conscientemente.
O impacto da amnésia infantil no nosso desenvolvimento
Embora possa parecer estranho não nos lembrarmos dos primeiros anos de vida, isso não significa que essas experiências não tenham impacto. O vínculo com os pais, as primeiras interações sociais e o ambiente em que crescemos desempenham um papel crucial no nosso desenvolvimento emocional e cognitivo.
Além disso, há evidências de que, apesar de não conseguirmos recordar eventos específicos, conseguimos armazenar sentimentos e sensações associadas a esses momentos. Por isso, mesmo que não se lembrem do colo dos vossos pais quando eram bebés, o vosso cérebro pode ter registado essa segurança e conforto.
O mistério de não nos lembrarmos do nosso nascimento não tem nada a ver com traumas ou bloqueios mentais – é apenas uma questão de desenvolvimento do cérebro. A amnésia infantil é um processo natural que acontece com todos nós, e talvez seja até uma bênção não termos de recordar momentos como as noites intermináveis de choro ou as fraldas a transbordar.
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Olá, Teresa!
ResponderEliminarÉ perfeitamente natural, penso eu, que não tenhamos qualquer memória do dia do nosso nascimento. Inclusive, dos primeiros tempos de vida. A nosso desenvolvimento está a nascer em toda a sua dimensão. É por isso impossível qualquer recordação.
Ótimo tema! Gostei de ler.
Deixo os votos de um bom fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Esse post está muito explicativo. Sempre me perguntei sobre essa dúvida. Parabéns pelo post.
ResponderEliminarBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está em HIATUS DE VERÃO do dia 19 de janeiro à 06 de março, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. O JJ, portanto, está cheio de posts legais e interessantes. Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
É verdade, geralmente começamos a 'registrar' acontecimentos em nossa memória, ali pelos três/quatro anos de idade. Sempre desconfiei que isso tivesse a ver com a imaturidade do cérebro, em nossos primeiros anos de vida, rsrs.
ResponderEliminarBeijo e bom fim de semana
Me pareció muy interesante. Te mando un beso.
ResponderEliminarOlá, Teresa
ResponderEliminarBelo texto sobre a nossa memória, em especial
sobre a memória infantil.
Achamos natural que assim aconteça, pelo menos
a mim nunca me trouxe grandes questionamentos.
Muito obrigada.
Beijinhos
Olinda
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